O melhor amigo do soldado em funções diversas
O homem não foi a única criatura a mostrar os dentes em campos de guerra. Em 1942, a American Kennel Association, com a ajuda de outro grupo chamado Dogs for Defense, deu início a uma campanha para incentivar o povo americano a voluntariar seus companheiros caninos para o serviço militar.
Cães fizeram parte de quase todos os exércitos da história, mas antes desse movimento, as forças americanas não haviam desenvolvido este recurso em tamanha escala (embora já possuíssem alguns cães em serviço). Os EUA treinariam 10 mil cães para funções militares durante a 2ª Guerra, pouco em comparação aos 200 mil cães que supostamente já haviam sido treinados pela Alemanha quando os americanos entraram no conflito.
A resposta de voluntários americanos foi tão imediata que, em março do mesmo ano, o corpo de quartel-mestre começou a integrar cães como animais de serviço. O treinamento foi concluído em numerosos acampamentos especiais distribuídos pelos EUA. Inicialmente, houveram algumas dificuldades na organização de como e onde esses cães receberiam seu treinamento, mas eles foram eventualmente amestrados para as funções de vigilância, reconhecimento, transporte com trenós, transporte de mensagens ou detecção de minas.
Cães em todas as frentes
Esses soldados caninos foram mobilizados em todas as frentes; Europa, norte da África e Pacífico. Os cães realizavam despachos entre unidades quando os meios de comunicação regulares eram interrompidos, auxiliavam na localização e inclusive na movimentação de soldados feridos, e transportavam munição e suprimentos médicos para as tropas durante combates. Seu tamanho pequeno e discrição ajudavam em sua utilidade e chances de sucesso nessas tarefas.
As unidades caninas provavelmente eram mais adeptas nas funções de reconhecimento e vigilância. No Oceano Pacífico, as tropas americanas enfrentaram um inimigo entrincheirado e frequentemente bem escondido. A densa vegetação e topografia tornavam a detecção visual um desafio sem tecnologias modernas como imagens de satélite ou sensores infravermelhos. Com um cão batedor bem treinado e a supervisão de um tratador, uma patrulha poderia ser alertada sobre movimentos inimigos e quaisquer emboscadas. Alguns cães foram inclusive treinados para detectar armadilhas, como fios de contato e buracos. Está registrado que nenhuma patrulha que possuía um cão de reconhecimento foi atacada sem ser advertida com pelo menos instantes de antecedência. Os cães e seus tratadores adquiriam valiosas informações de campo durante cada manobra. Esses cães são reconhecidos por terem salvo incontáveis vidas na infantaria.
Condecorações
As tropas valorizavam esses cães tremendamente, e as companhias chegaram ao ponto de condecorá-los por heroísmo. Vários cães receberam medalhas de combate, tais como a Coração Púrpuro, mas essas foram posteriormente revogadas quando o Departamento de Guerra restringiu essas condecorações para humanos. Os patriotas caninos não deixaram de ser oficialmente reconhecidos pelo seu serviço... eventualmente. O corpo de quartel-mestre liberou certificados para cães que foram dispensados de serviço ou abatidos no cumprimento do dever.
Após a guerra
Quando a guerra acabou e as tropas voltaram para casa, Houve alguma preocupação em relação a o que aconteceria com os cães. Nem todos os donos estavam em condições de recebê-los de volta, e um número considerável dos cães convocados para a guerra eram originários de canis, sem terem um lar. Porém, graças ao corpo de quartel-mestre e o grupo Dogs for Defense, cada animal passou por uma estação de processamento, na esperança de que poderiam retornar para a vida civil. Lamentavelmente, alguns dos cães sofriam de estresse pós-traumático ou foram considerados de alguma forma inaptos para serem repatriados; após tentativas malsucedidas de reabilitação, eles foram sacrificados.
O público reage
Quando o público foi alertado para o excesso de cães que precisavam de um lar, o número de pedidos para adoção foi espantoso. Foram recebidas mais de 17 mil solicitações, um volume amplamente maior que o número de cães disponíveis, e mesmo anos após todos os cães serem entregues, continuaram chegando pedidos.
Cada cão foi premiado com um certificado de lealdade em serviço e dispensa honrosa. Todos os cães foram enviados para seus donos com as despesas pagas pelo governo, e todos chegaram com um kit composto por suas condecorações, uma coleira, uma correia e uma cópia do manual War Dogs (Cães de Guerra) do Departamento de Guerra. Finalmente em casa, soldados humanos e caninos se limparam da lama e conteram a ferocidade liberada no exterior, sabendo que sua coragem e sacrifícios haviam conquistado a eles e seus conterrâneos pelo menos alguns dias de maior tranquilidade.